Tópico
Fragmentação
(Recorte do Roteiro de Atividades - CRV)
As
Fronteiras da Exclusão Social
Observação: Ao final, há um glossário para
melhor nortear o seu trabalho com os alunos.
O estudo das
migrações é importante para que se possa compreender a reordenação do
território no movimento de pessoas e culturas nos lugares. Cada
grupo social deixa suas marcas e demarca um território com sua inserção no país
ou região receptor/a. Essa inserção sempre foi marcada por conflitos
territoriais e de fronteiras. Estas são, sobretudo, simbólicas: étnico-raciais,
culturais, linguísticas, religiosas, revelando as permanências, as
contradições, os conflitos que geram as fragmentações. Professor/a vá à
Orientação Pedagógica correspondente a este tópico. Leia o sentido e a
importância de estudar esse conceito estruturador. Realize as atividades
propostas. Dê continuidade a esse estudo trabalhando o roteiro
proposto. Trata-se de um projeto didático orientado que trabalha o conceito
de fronteira como desterritorialização ou exclusão do
território, associadas à migração. As sequências didáticas são:
Atividade 1 –
Descobrindo os saberes da turma sobre as fronteiras criadas pela
migração
1- Listar
os conhecimentos da turma sobre a migração e suas fronteiras.
2- Registrar os
argumentos e ideias da turma sobre:
·
Uma das características do mundo de
hoje é o desenraizamento decorrente da exclusão. O que as pessoas
migrantes procuram em outros países ou regiões?
·
Como essas
pessoas tentam sobreviver e espacializar-se nos lugares por onde migram?
·
Quais são as fronteiras que você conhece Quais são
as relações que elas estabelecem com os fenômenos econômicos,
políticos e culturais?
·
Por que as fronteiras políticas são instáveis?
·
A globalização tem tornado as fronteiras mais
flexíveis. Como esse fenômeno ocorre mundo afora?
·
Como você exemplificaria as fronteiras simbólicas?
3- Sistematizar os
conhecimentos e representações da turma em um painel para colar na parede.
Voltar ao painel sempre que possível no desenvolver das atividades propostas.
Atividade
2 – Leitura de texto – As políticas e movimento migratório no contexto da
segregação.
“(...) O
prefeito de Novo Hamburgo reúne-se com o de São Leopoldo para
discutir a implantação do Programa Fecha Fronteiras no Vale dos Sinos e informa
a existência de cinco veículos da prefeitura que circulam nos locais de acesso
para controlar a chegada de indesejáveis. Quando essas equipes encontram um
caminhão de outro município carregado com objetos de mudança, procuram saber
onde a família vai se instalar. Se as pessoas não têm moradia definida (...)
são orientadas a retornar ao local de origem’ ( Correio do Povo,
18/02/1993).
A
revista Veja – Rio Grande do Sul informa que são cinco as cidades gaúchas que
‘decidiram vetar a entrada de pobres’. (‘A porta bate na cara com a
miséria’ – Veja Rio Grande do Sul,17/02/1993). O prefeito de Gramado, que
explica à reportagem não querer ‘importar miséria nem violência’ (idem),
encarregou nove ‘fiscais comunitários’ de circularem em bairros
populares e indagarem aos migrantes se têm casa e emprego
garantidos; em caso negativo, a prefeitura providencia sua viagem para fora do
município ( Comunidades se unem contra migrantes, Zero Hora, 1/03/1993). As
cidades focalizadas pela revista - Teutônia, Gramado, Bento
Gonçalves, Novo Hamburgo e Frederico Westphalen – apresentam renda per capita muito
acima da média nacional e do estado.
Ricas
cidades do Triângulo Mineiro – particularmente, Uberaba e Uberlândia - exercem
forte triagem nos pontos de desembarque. Estas cidades são acusadas, por
algumas prefeituras da região de Ribeirão Preto, de exportarem seus migrantes
(muitas vezes as assistentes sociais usam a expressão itinerante).
No
Encontro Regional sobre migrações, promovido pela prefeitura de Ribeirão Preto
em 1993, nas manifestações dos representantes de cerca de 30 municípios da Califórnia
Paulista deixaram evidente que, de uma maneira ou de outra, a prática está
generalizada em toda a região. Foram também expressivas as
manifestações contrárias ao comportamento de prefeituras de outras regiões do
estado de São Paulo, particularmente Campinas e Jundiaí, que fornecem passagem
ou utilizam um vagão cedido pela FEPASA, para redistribuir seus
indesejáveis pela região.
Até
mesmo em cidades menos influentes este comportamento vem sendo
observado. Em Além Paraíba, os andarilhos (conforme designação local) que
circulam pela Rio-Bahia muitas vezes encontram obstáculos para transpor a ponte
sobre o rio Paraíba do Sul que dá acesso à cidade.
O
que mais chama a atenção nestes exemplos, que já são muitos, é o
apoio generalizado da população local a estas atitudes. Identificando no
migrante o futuro desocupado, mendigo, assaltante, estas populações defendem
seus espaços urbanos, seu meio ambiente. Depoimentos de assistentes sociais
preocupadas com a situação informam que são numerosos os chamados telefônicos
às prefeituras ( ou às secretarias de Bem Estar ou Promoção Social
), inclusive de bairros populares, exigindo providências
para a remoção e expulsão dos migrantes/andarilhos/itinerantes que
se instalam nas praças e ruas ou que invadem terrenos baldios.
Na
região de Ribeirão Preto, onde as plantações de cana e laranja utilizam em
larga escala migrantes sazonais (vindos do próprio estado
de São Paulo, mas também de MG, do PI etc), estes são alojados nas usinas e
fazendas, mas sua instalação nas cidades é fortemente controlada ( e mesmo
impedida). Normalmente, o clima se torna mais tenso no fim das safras, quando
alguns tentam permanecer e outros encontram-se sem recursos para empreender a
viagem de volta.” 2
Na
escala mundial/regional a exclusão do migrante denuncia um mundo em
fragmentação. A discriminação contra o migrante ressurge nas manifestações
nacionalistas e nos ódios étnico-culturais, demarcando as fronteiras entre o
norte e o sul. A União Europeia vem demarcando suas fronteiras no
Mediterrâneo, Adriático e Leste Europeu. A xenofobia e a indiferença
se apresentam em níveis diferentes de tolerância, os africanos negros são mais
tolerados por sua docilidade e espírito colonizado que os muçulmanos. Estes são
detestados por sua arrogância e forte identidade cultural. Eles
portam o sentimento de autonomia e de expansão da
cultura islâmica. Eles agitam a ordem política europeia questionando
a concessão da cidadania na Alemanha (turcos), o racismo na Espanha (
magrebinos, sobretudo marroquinos).
A
União Europeia sabe que limitar a chegada dos migrantes significa parar o
crescimento conforme dados da OIT (Organização Internacional do
Trabalho) e OCDE ( Organização De Cooperação e Desenvolvimento
Europeu) Assim, as políticas da União Europeia vem tentando discutir esses
conflitos, sobretudo na região euro mediterrânea que envolve o Magreb africano,
de onde provém fugitivos de situações de guerra e perseguições políticas,
mulheres que pretendem se libertar do peso islâmico e homens jovens
em busca de vida melhor. As políticas são de fixação no lugar de
origem com ajudas financeiras internacionais ou no país de
emigração, para que possam aplicar aí seus rendimentos.
Nos
Estados Unidos, embora a migração seja intensa, a proposta é de manter a
diferença étnica, de estilos de vida, cultura etc, desde que ela não
interfira na prosperidade do país, resguardando a diversificação dos
costumes e o consumo. Assim, os Estados Unidos vão administrando conflitos
entre negros, hispânicos e asiáticos com leis restritivas de imigração.
A
Europa Ocidental ainda não se preparou para esse festim neoliberal e luta para
manter sua identidade nacional/racial/cultural.
Atividade de reflexão e
análise
Reflita sobre as fronteiras simbólicas, citadas no
texto que promovem a desterritorialidade de grupos e povos.
·
Quais são esses povos e essas fronteiras?
·
Por que elas existem?
·
Onde se localizam suas regiões?
·
Identifique-as no mapa-múndi e no mapa
do Brasil justificando sua localização nessas regiões.
Atividade de entrevista
Entreviste
pessoas procedentes de outros lugares e naturalidades que residem em seu
município. Indague sobre suas relações com os habitantes locais. Leve as
entrevistas para a sala. Discuta como os colegas. Registrem a síntese.
Atividade 3 - Júri simulado: as políticas de
restrições à migração
Roteiro:
·
Organização de grupos para investigar as políticas
restritivas à migração no Brasil, no seu município e no mundo.
·
Definições dos grupos para o júri: juiz,
promotoria, defesa, jurados.
·
Debate da promotoria e da defesa, manifestação dos
jurados e posição (síntese) do juiz sobre o problema.
·
Avaliação do trabalho realizado e da aprendizagem.
·
Registro do que gostariam de saber mais
e das contribuições individuais.
Atividade de
autoavaliação
Elaboração de um
texto expressando as contradições do fenômeno migratório no
reordenamento do território e na criação de fronteiras cada vez mais fechadas e
segregadoras diante um processo flexível de globalização.
Glossário:
Desterritorialidade: Grupos
sociais ou pessoas que sobrevivem nas fronteiras da marginalidade,
articulando-se com os lugares e criando territorialidades clandestinas
que se denominam Reterritorialização. Esses sujeitos segregados ganham
visibilidade nas paisagens excluídas como nos acampamentos, campos de
refugiados, guetos, sarjetas, ruas.
Globalização: fenômeno que consiste em
múltiplas e rápidas interações entre indivíduos e empresas, ONGs e Estados, facilitado
pelas novas tecnologias, gerando novas realidades e alterando o curso do
processo civilizatório mundial.
Identidade: a fonte de significado e
experiência de um povo, envolvendo representações simbólicas e a relação com o
outro, com a alteridade. Como identidade cultural representa os costumes, as
tradições, a língua, as formas de conviver e de viver, compartilhadas e
construídas simbolicamente que dão coesão e força simbólica aos indivíduos ou
grupo. Como identidade nacional representa movimentos que partem das
bases: atributos linguísticos, territoriais, étnicos, religiosos e
políticos-históricos compartilhados. Como identidade territorial entende-se-
“conjunto concatenado de representações socioespaciais que atribuem ou
reconhecem uma certa homogeneidade em relação ao espaço ao qual se referem,
dando coesão e força (simbólica) ao grupo que ali vive e com ele se
identifica.”(HAESBAERT,1997).
Desenraizamento: Ato de
arrancar, desterritorializar pessoas, grupo, povos de seu lugar de origem.
Fazer perder as características de origem.
Fronteiras: Em escala regional, nacional,
internacional a espacialidade representa o arranjo das fronteiras políticas.
Com seus limites, sua história de lutas, conquistas, dominação, imposição de
língua, costumes, religião, tradições, fragmentam e redefinem a configuração do
território. Esses traçados imaginários desenham fronteiras simbólicas,
segregadoras, instáveis, bem como soberanias difusas em conflitos religiosos,
étnicos, políticos/estratégicos, culturais, econômicos, nacionais.
Fronteira simbólica: amplia o
entendimento da desterritorialização quando discute a noção de pátria, estado,
território, povo demarcando as diferenças e alteridades ligadas à exclusão.
Como exemplo, podemos citar a questão do povo curdo. Ele forma a quarta maior
nacionalidade do Oriente Médio e está disperso entre Irã, Iraque e Turquia.
Luta pelo reconhecimento de sua nação, sofre com a geopolítica das nações
envolvidas e o jogo de interesses de europeus, russos e norte-americanos na
região.
Fonte: http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?ID_OBJETO=42780&tipo=ob&cp=3366ff&cb=&n1=&n2=Roteiros%20de%20Atividades&n3=Fundamental%20-%206%C2%BA%20ao%209%C2%BA&n4=Geografia&b=s
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