quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Tópico
Fragmentação
(Recorte do Roteiro de Atividades - CRV)

As Fronteiras da Exclusão Social

Observação: Ao final, há um glossário para melhor nortear o seu trabalho com os alunos.
O estudo das migrações é importante para que se possa compreender a reordenação do território  no movimento de pessoas e culturas nos lugares. Cada grupo social deixa suas marcas e demarca um território com sua inserção no país ou região receptor/a. Essa inserção sempre foi marcada por conflitos territoriais e de fronteiras. Estas são, sobretudo, simbólicas: étnico-raciais, culturais, linguísticas, religiosas, revelando as permanências, as contradições, os conflitos que geram as fragmentações. Professor/a vá à Orientação Pedagógica correspondente a este tópico. Leia o sentido e a importância de estudar esse conceito estruturador. Realize as atividades propostas.   Dê continuidade a esse estudo trabalhando o roteiro proposto. Trata-se de um projeto didático orientado que trabalha o conceito de fronteira como desterritorialização ou exclusão do território, associadas à migração.  As sequências didáticas são:

Atividade 1 – Descobrindo os saberes da turma sobre as fronteiras  criadas pela migração
1-       Listar os conhecimentos da turma sobre a migração e suas fronteiras.

2-       Registrar os argumentos e ideias da turma sobre:
·         Uma das características do mundo de hoje  é o desenraizamento decorrente da exclusão. O que as pessoas migrantes procuram em outros países ou regiões?
·          Como essas pessoas tentam sobreviver e espacializar-se nos lugares por onde migram?
·          Quais são as fronteiras que você conhece Quais são as relações que elas estabelecem  com os fenômenos econômicos, políticos e culturais?
·          Por que as fronteiras políticas são instáveis?
·         A globalização tem tornado as fronteiras  mais flexíveis. Como esse fenômeno ocorre mundo afora?
·          Como você exemplificaria as fronteiras simbólicas?

3-       Sistematizar os conhecimentos e representações da turma em um painel para colar na parede. Voltar ao painel sempre que possível no desenvolver das atividades propostas.
Atividade 2 – Leitura de texto – As políticas e movimento migratório no contexto da segregação.

        “(...)  O prefeito de Novo Hamburgo reúne-se com o de São Leopoldo  para discutir a implantação do Programa Fecha Fronteiras no Vale dos Sinos e informa a existência de cinco veículos da prefeitura que circulam nos locais de acesso para controlar a chegada de indesejáveis. Quando essas equipes encontram um caminhão de outro município carregado com objetos de mudança, procuram saber onde a família vai se instalar. Se as pessoas não têm moradia definida (...) são orientadas a retornar ao local de origem’  ( Correio do Povo, 18/02/1993). 
           A revista Veja – Rio Grande do Sul informa que são cinco as cidades gaúchas que ‘decidiram vetar a entrada de pobres’. (‘A porta  bate na cara com a miséria’ – Veja Rio Grande do Sul,17/02/1993). O prefeito de Gramado, que explica à reportagem não querer ‘importar miséria nem violência’ (idem), encarregou nove ‘fiscais comunitários’  de circularem em bairros populares e indagarem aos migrantes se  têm casa e emprego garantidos; em caso negativo, a prefeitura providencia sua viagem para fora do município ( Comunidades se unem contra migrantes, Zero Hora, 1/03/1993). As cidades focalizadas pela revista  - Teutônia, Gramado, Bento Gonçalves, Novo Hamburgo e Frederico Westphalen – apresentam renda per capita muito acima  da média nacional e do estado.
          Ricas cidades do Triângulo Mineiro – particularmente, Uberaba e Uberlândia - exercem forte triagem nos pontos de desembarque. Estas cidades são acusadas, por algumas prefeituras da região de Ribeirão Preto, de exportarem seus migrantes (muitas vezes as assistentes sociais usam a expressão itinerante).
          No Encontro Regional sobre migrações, promovido pela prefeitura de Ribeirão Preto em 1993, nas manifestações dos representantes de cerca de 30 municípios da Califórnia Paulista deixaram evidente que, de uma maneira ou de outra, a prática está generalizada em toda a região.  Foram também expressivas as manifestações contrárias ao comportamento de prefeituras de outras regiões do estado de São Paulo, particularmente Campinas e Jundiaí, que fornecem passagem ou utilizam um vagão cedido pela FEPASA,  para redistribuir seus indesejáveis  pela região.
           Até mesmo em cidades menos influentes  este comportamento vem sendo observado. Em Além Paraíba, os andarilhos (conforme designação local) que circulam pela Rio-Bahia muitas vezes encontram obstáculos para transpor a ponte sobre o rio Paraíba do Sul que dá acesso à cidade.
            O que mais chama a atenção nestes exemplos,  que já são muitos, é o apoio generalizado da população local a estas atitudes. Identificando no migrante o futuro desocupado, mendigo, assaltante, estas populações defendem seus espaços urbanos, seu meio ambiente. Depoimentos de assistentes sociais preocupadas com a situação informam que são numerosos os chamados telefônicos às prefeituras ( ou às  secretarias de Bem Estar ou Promoção Social ), inclusive  de bairros populares, exigindo providências para  a remoção e expulsão dos migrantes/andarilhos/itinerantes que se instalam nas praças e ruas ou que invadem terrenos baldios.
             Na região de Ribeirão Preto, onde as plantações de cana e laranja utilizam em larga escala  migrantes sazonais  (vindos do próprio estado de São Paulo, mas também de MG, do PI etc), estes são alojados nas usinas e fazendas, mas sua instalação nas cidades é fortemente controlada ( e mesmo impedida). Normalmente, o clima se torna mais tenso no fim das safras, quando alguns tentam permanecer e outros encontram-se sem recursos para empreender a viagem de volta.” 2
        Na escala mundial/regional a exclusão do migrante denuncia um mundo em fragmentação. A discriminação contra o migrante ressurge nas manifestações nacionalistas e nos ódios étnico-culturais, demarcando as fronteiras entre o norte e o sul.  A União Europeia vem demarcando suas fronteiras no Mediterrâneo, Adriático e Leste Europeu.  A xenofobia e a indiferença se apresentam em níveis diferentes de tolerância, os africanos negros são mais tolerados por sua docilidade e espírito colonizado que os muçulmanos. Estes são detestados por sua arrogância e forte identidade cultural. Eles portam  o sentimento  de autonomia e de expansão da cultura  islâmica. Eles agitam a ordem política europeia questionando a concessão da cidadania na Alemanha (turcos), o racismo na Espanha ( magrebinos, sobretudo marroquinos).
          A União Europeia sabe que limitar a chegada dos migrantes significa parar o crescimento conforme dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho)  e OCDE ( Organização De Cooperação e Desenvolvimento Europeu) Assim, as políticas da União Europeia vem tentando discutir esses conflitos, sobretudo na região euro mediterrânea que envolve o Magreb africano, de onde provém fugitivos de situações de guerra e perseguições políticas, mulheres que pretendem  se libertar do peso islâmico e homens jovens em busca de vida melhor. As políticas  são de fixação no lugar de origem  com ajudas financeiras internacionais ou no país de emigração, para que possam aplicar aí seus rendimentos.
          Nos Estados Unidos, embora a migração seja intensa, a proposta é de manter a diferença étnica, de estilos de vida, cultura etc, desde que ela não interfira  na prosperidade do país, resguardando a diversificação dos costumes e o consumo. Assim, os Estados Unidos vão administrando conflitos entre negros, hispânicos e asiáticos com leis restritivas de imigração.
          A Europa Ocidental ainda não se preparou para esse festim neoliberal e luta para manter sua identidade nacional/racial/cultural.

Atividade de reflexão e análise
Reflita sobre as fronteiras simbólicas, citadas no texto que promovem a desterritorialidade de grupos e povos.

·         Quais são esses povos e essas fronteiras?
·         Por que elas existem? 
·         Onde se localizam suas regiões?
·         Identifique-as no mapa-múndi  e no mapa do Brasil justificando sua localização nessas regiões.

Atividade de entrevista
Entreviste pessoas procedentes de outros lugares e naturalidades que residem em seu município. Indague sobre suas relações com os habitantes locais. Leve as entrevistas para a sala. Discuta como os colegas. Registrem a síntese.

Atividade 3 - Júri simulado: as políticas de restrições à migração
Roteiro:
·         Organização de grupos para investigar as políticas restritivas à migração no Brasil, no seu município e no mundo.
·         Definições dos grupos para o júri: juiz, promotoria, defesa, jurados.
·         Debate da promotoria e da defesa, manifestação dos jurados e posição (síntese) do juiz sobre o problema.
·         Avaliação do trabalho realizado e da aprendizagem.
·         Registro do que gostariam de saber  mais e das contribuições  individuais.

Atividade de autoavaliação
Elaboração de um texto expressando as contradições do fenômeno migratório  no reordenamento do território e na criação de fronteiras cada vez mais fechadas e segregadoras diante um processo flexível de globalização.

Glossário:
Desterritorialidade: Grupos sociais ou pessoas que sobrevivem  nas fronteiras da marginalidade, articulando-se com os lugares e criando territorialidades clandestinas  que se denominam Reterritorialização. Esses sujeitos segregados ganham visibilidade nas paisagens excluídas como nos acampamentos, campos de refugiados, guetos, sarjetas, ruas.

Globalização: fenômeno que consiste em múltiplas e rápidas interações entre indivíduos e empresas, ONGs e Estados, facilitado pelas novas tecnologias, gerando novas realidades e alterando o curso do processo civilizatório mundial.

Identidade: a fonte de significado e experiência de um povo, envolvendo representações simbólicas e a relação com o outro, com a alteridade. Como identidade cultural representa os costumes, as tradições, a língua, as formas de conviver e de viver, compartilhadas e construídas simbolicamente que dão coesão e força simbólica aos indivíduos ou grupo. Como identidade nacional representa movimentos que partem  das bases: atributos linguísticos, territoriais, étnicos, religiosos e políticos-históricos compartilhados. Como identidade territorial entende-se- “conjunto concatenado de representações socioespaciais que atribuem ou reconhecem uma certa homogeneidade em relação ao espaço ao qual se referem, dando coesão e força (simbólica) ao grupo que ali vive e com ele se identifica.”(HAESBAERT,1997).

Desenraizamento: Ato de arrancar, desterritorializar pessoas, grupo, povos de seu lugar de origem. Fazer perder as características de origem.

Fronteiras: Em escala regional, nacional, internacional a espacialidade representa o arranjo das fronteiras políticas. Com seus limites, sua história de lutas, conquistas, dominação, imposição de língua, costumes, religião, tradições, fragmentam e redefinem a configuração do território. Esses traçados imaginários desenham fronteiras simbólicas, segregadoras, instáveis, bem como soberanias difusas em conflitos religiosos, étnicos, políticos/estratégicos, culturais, econômicos, nacionais.

Fronteira simbólica: amplia o entendimento da desterritorialização quando discute a noção de pátria, estado, território, povo demarcando as diferenças e alteridades ligadas à exclusão. Como exemplo, podemos citar a questão do povo curdo. Ele forma a quarta maior nacionalidade do Oriente Médio e está disperso entre Irã, Iraque e Turquia. Luta pelo reconhecimento de sua nação, sofre com a geopolítica das nações envolvidas e o jogo de interesses de europeus, russos e norte-americanos na região.

Fonte: http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?ID_OBJETO=42780&tipo=ob&cp=3366ff&cb=&n1=&n2=Roteiros%20de%20Atividades&n3=Fundamental%20-%206%C2%BA%20ao%209%C2%BA&n4=Geografia&b=s




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