Tópico
Segregação
Espacial
(Recorte do Roteiro de Atividades - CRV)
Observação: Ao final, há um glossário para
melhor nortear o seu trabalho com os alunos.
Professor/a, esse tópico propõe 3 habilidades
complexas sobre os conceitos de segregação espacial, exclusão,
marginalização, cotidiano e território. Para trabalhar com imagens e textos do
cotidiano selecionamos a leitura do filme - Hotel Ruanda. As cenas
chocantes do cotidiano de terror revelam a segregação e exclusão de
povos da mesma nacionalidade, separados pelos colonizadores, que escolheram os
tutsis para representá-los no poder local. Essa escolha gera um movimento
separatista entre as etnias: hutus ( 85% da população) e tutsis. O filme revela
o separatismo, o nacionalismo e o ódio instaurados nas relações sociais,
num território comum, mas marcado por estratégias de segregação. A
leitura do filme possibilita ver na cidade a territorialidade dos bandos de
tutsis, com seus facões, praticando o genocídio. Nesse cotidiano africano
ressalta-se o hotel Mille Colines, multinacional belga, comandado por um
gerente tutsi.
As
questões conceituais possibilitam refletir sobre cotidianos de
conflito no mundo, com olhar no continente africano e sua exclusão no processo
de globalização mundial; permite problematizar a questão da raça
negra e sua história de discriminação e segregação no mundo dos brancos; o conflito
gerado pela colonização europeia na África e a permanência do terror
e do genocídio entre tribos de mesma nacionalidade; a migração forçada para os
campos de refugiados. Tudo isso, pode ser visualizado no filme de Terry
George, numa história verídica.
O
estudo da segregação espacial no filme levará o aluno a compreender as relações
sociais existentes no território africano, espacializadas na região de Ruanda,
onde as duas tribos tutsis e hutus reterritorializam o espaço de exclusão da
cidade, demarcando-o com a violência e o terror dos conflitos
étnicos. Então vamos à sessão!
Atividade 1 –
Leitura do filme: Hotel Ruanda
·
Apresentar para os alunos a sinopse do
filme. É necessário problematizar o que se pretende dentro desse cotidiano
africano: observar a tensão, o ódio entre grupos étnicos, o separatismo e
a violência para refletir sobre o papel das grandes potências na
desestruturação da espacialidade africana.
“Em 1994 um
conflito político em Ruanda levou à morte de quase um milhão de pessoas em
apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os ruandenses tiveram que buscar
saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma delas foi oferecida por
Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines,
localizado na capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul abrigou no
hotel mais de 1200 pessoas durante o conflito,” é interessante discutir a
ausência de discriminação do gerente e seu caráter humanitário.
Você, professor,
pode selecionar fotos e textos em sites sobre o filme.
·
Combinar a sessão: o dia, o tempo, a participação e
os registros.
·
Leitura do filme e registros
·
Sequência de atividades para trabalhar o conceito
de segregação espacial.
Atividade
cartográfica:
·
Localizar no mapa-múndi (Atlas), o
espaço que foi cenário do filme – Kigali, capital de Ruanda.
·
Localizar no mapa-múndi, com legenda criativa, esse
lugar de conflito.
Atividade de descrição
·
Descrever as cenas do filme na sequência do
enredo.: o movimento turístico do hotel, as relações entre os
tutsis; o início das tensões; a realidade da situação vivenciada
pelos personagens: a desterritorialização no hotel, a exclusão e
humilhação dos hutus, o genocídio.
Leitura do
texto para subsidiar a interpretação do filme
Os
demônios estão todos em Ruanda.
Kigali, a
capital de Ruanda, tinha 350 mil habitantes em meados de abril de
1994. Um mês depois, não havia mais que 250 mil pessoas vivendo na cidade. Pelo
menos 60 mil foram assassinadas. Mais de 20% dos 8 milhões de ruandenses
abandonaram suas casas, em pânico, para se refugiar no interior ou países
vizinhos.
Em um único dia, 250 mil pessoas
cruzaram a fronteira com a Tanzânia por uma ponte estreita – o
maior e mais rápido êxodo já visto por funcionários da ONU e Cruz Vermelha. Em
menos de 4 semanas, houve uma chacina de proporções assombrosas: mais de 200
mil mortos, 500 mil trucidados ( homens, mulheres, crianças, velhos). Um
missionário que se encontrava em Ruanda disse à revista Time: ‘Não
sobraram demônios no inferno. Eles estão todos em Ruanda’. A tragédia é mais uma
etapa da guerra civil que despedaça Ruanda desde 1990 e mais um round na
histórica briga entre as duas etnias que povoam a região desde o século XV – os
hutus e os tutsis (ou watusis). O ódio entre esses dois povos é um legado do
colonialismo.
Os hutus, de estatura
mais baixa e de cor negra mais acentuada, formam hoje 85% da população. Falam a
mesma língua e conviveram em paz com os tutsis, mais altos e de
pele mais clara, até a chegada dos europeus, em 1885. Primeiro foram os
alemães, que colonizaram a região até a Primeira Guerra Mundial, e depois os
belgas, que ficaram até 1961, um ano antes da independência de Ruanda.
Os colonizadores escolheram
os tutsis como testas de ferro de seu domínio. Concederam a
eles os cargos na burocracia governamental, as vagas nas escolas, os postos
mais importantes no exército e facilidades para se instalarem no
comércio.
Na década de 50 ocorrem os
primeiros conflitos entre as duas etnias. Com o crescimento do
sentimento de nacionalidade em toda a África, os hutus lançam
um movimento separatista, mas seus líderes são assassinados pela elite tutsi.
Em 1959 os hutus finalmente derrubam a monarquia tutsi,
instalam um governo provisório no ano seguinte conseguem a independência, em
1962. Em 1963, um movimento guerrilheiro tutsi invade Ruanda procedente do
vizinho Burundi, mas é derrotado e perde 12 mil homens. Dez anos mais tarde um
golpe militar põe no poder um hutu
A atual
guerra civil começou em 1990, quando guerrilheiros tutsis invadem
Ruanda procedentes de Uganda. Intermináveis negociações de paz foram
conduzidas pela ONU, por países africanos, França e Bélgica.
Em abril de 1994, o avião em que
viajava o presidente Habyarimana (hutu), foi derrubado por míssil quando
retornava de uma rodada de negociação da paz na Tanzânia. Os
<;B>hutus responsabilizaram os tutsis pelo assassinato,
mas suspeita-se que líderes radicais hutus é que tenham
disparado o míssil a fim de criar pretexto para massacrar os tutsis.
Milícias que atuam como braços
armados de partidos políticos hutus saíram à caça de seus adversários em todo
país. A chacina foi monstruosa. Invadiram a universidade de Kigali e
mataram, com tiros e golpes de facão, todos os estudantes que estavam no
campus. Os milicianos tinham listas com nomes de pessoas a serem mortas e as perseguiam
até atingir os objetivos. Aldeias inteiras foram dizimadas. Moradores de países
vizinhos e observadores internacionais presenciaram cenas horripilantes, que
demonstravam um método macabro de extermínio: primeiro apareciam boiando nas
correntezas dos rios os corpos chacinados de homens e jovens, que morreram
lutando para defender suas famílias; depois apareciam os corpos das mulheres e
velhos, também trucidados; por fim os corpos intactos de crianças e
bebês, que foram jogados nos rios para se afogarem. Fonte: Revista
Nova Escola. Agosto: 1994, p.42/43.
Atividade de interpretação do texto e do filme
·
Construir um argumento
geopolítico para explicar a relação entre o processo histórico de
colonização e o desenvolvimento do conflito. Basear-se no conflito étnico:
hutus e tutsis.
·
Explicar o significado de etnia e
genocídio revelados nas cenas do filme e no texto acima.
·
Problematizar: O genocídio de
Ruanda seria uma versão africana da limpeza étnica que ocorre em
alguns países europeus? Em quais lugares do mundo essa prática
ainda ocorre? Por quê?
·
O hotel Mille Colines representa
uma segregação espacial contraditória: a) antes do conflito só recebe turistas
estrangeiros; durante o conflito abriga a população local e retira os turistas.
Como você analisa essa contradição e conceitua a segregação espacial no filme?
·
Um conceito significativo abordado
no filme: fronteira política do território de Ruanda.
Ele é mostrado nas cenas finais dos refugiados, procurando desesperadamente
sair do país. Apresente argumentos sobre a barbárie hutu,
respondendo: É possível reorganizar esse território? Como? Quais
suas sugestões para retirar esses povos do caos étnico e político?
Atividade de solidariedade
·
Seria conveniente enviar uma lista
de alternativas à ONU? Como
elaborá-la? Como enviar?
Glossário:
Fronteiras: limite do território de um
Estado e do exercício do poder territorial. Na representação simbólica do
território pode estar significando as delimitações espaciais da
segregação/discriminação, das resistências, dos valores, das identidades.
Identidade: a fonte de significado e
experiência de um povo, envolvendo representações simbólicas e a relação com o
outro, com a alteridade. Como identidade cultural representa os costumes, as
tradições, a língua, as formas de conviver e de viver, compartilhadas e construídas
simbolicamente que dão coesão e força simbólica aos indivíduos ou grupo. Como
identidade nacional representa movimentos que partem das bases: atributos
linguísticos, territoriais, étnicos, religiosos e políticos-históricos
compartilhados. Como identidade territorial entende-se “conjunto concatenado de
representações socioespaciais que atribuem ou reconhecem uma certa
homogeneidade em relação ao espaço ao qual se referem, dando coesão e força
(simbólica) ao grupo que ali vive e com ele se identifica.”(HAESBAERT,1997)
Etnia é uma comunidade humana em suas
afinidades linguísticas, culturais, tribais, religiosos, nacionais e genéticas,
compartilhando uma espacialidade social e política no território. Não pode ser
confundida com raça que representa um grupo menos. A etnia justifica
laços históricos reais ou imaginários.
Genocídio: extermínio físico de um grupo
nacional étnico ou religioso.
Fonte: http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?ID_OBJETO=42777&tipo=ob&cp=3366ff&cb=&n1=&n2=Roteiros%20de%20Atividades&n3=Fundamental%20-%206%C2%BA%20ao%209%C2%BA&n4=Geografia&b=s
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