quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A região concentrada no território brasileiro

Introdução
É muito comum conceber a regionalização do território brasileiro a partir da divisão estabelecida há décadas pelo IBGE, que supõe 5 regiões (Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul), no entanto, essa subdivisão do espaço nacional serve mais para fins estatísticos do que para expressar a complexa realidade territorial do Brasil contemporâneo.

Hoje é possível identificar uma grande diversidade de regiões, como a fronteira agrícola na Amazônia; o vale do São Francisco, que está se tornando uma grande e moderna área produtiva; as regiões metropolitanas e suas áreas de influência com produções agrícolas e industriais específicas; as regiões do agronegócio com as especializações produtivas, entre tantas outras realidades regionais que se relacionam a estas ou a outras regiões de outros países, como vem ocorrendo no sul do país com a integração promovida pelo Mercosul (ainda que por ora não seja tão intensa a integração).
Uma diferença básica que há entre o território brasileiro no século 21 e o de décadas atrás, quando foram estabelecidas as atuais regiões do IBGE (em 1970) é a densidade e a qualidade das redes, das redes técnicas. Atualmente, o país tem uma densidade de redes materiais como rodovias, ferrovias, hidrovias, sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, gasodutos etc. em quantidades muito superiores às do passado - e que estão em acelerado crescimento. Isso a despeito da precariedade encontrada, se essas redes forem comparadas a padrões de outros países. Além disso, hoje há algo inédito em relação a 1970: as redes imateriais, isto é, aquelas formadas pelos sistemas orbitais (satélites) e cabos de fibra ótica, por onde flui uma quantidade expressiva de informações (que podem ser dinheiro, ordens, comunicações pessoais e empresariais etc.).
Neste plano de aula, vamos analisar a chamada região concentrada, região brasileira onde a densidade desses dois tipos de rede é a maior do território brasileiro.

Objetivos
- Expor a existência de diferentes tipos de região que podem ser analisadas, servindo para compreender e mesmo intervir no território brasileiro.
- Apresentar a diversidade regional do país e compreender as especificidades da região concentrada.
- Introduzir a noção de que as regiões são constituídas pela área territorial contígua e também por redes e fluxos que elas promovem.
Em resumo, pretende-se dar conta das seguintes expectativas de aprendizagem:
- ao diferenciar região e regionalização, proporcionar uma visão de conjunto do país;
- o entendimento de que os fluxos imateriais hoje são fundamentais na organização do território e influem diretamente na nossa vida.

Conteúdos
Região concentrada
Redes e fluxos
Organização regional

Ano
6º, 7º ou 8º ano

Tempo estimado Três aulas

Material necessário
Atlas, mapa político e/ou regional do Brasil
Gráfico da distribuição regional dos investimentos do governo em transportes
Gráfico da densidade de ferrovias por unidade da federação

Desenvolvimento
1ª aula Inicie a aula com a seguinte exposição: originalmente, a noção de região concentrada foi criada por Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro em 1979, abrangendo o estado do Rio de Janeiro, o sul do Espírito Santo, o sul de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, mais tarde, partes do Mato Grosso do Sul. Desde então, muitos estudos foram realizados sobre essa região e hoje vemos essa área tem uma densidade de redes técnicas ainda maior: 1. Esse é o caso das redes materiais e 2. Principalmente, da densa rede imaterial, quase inexistente quando a denominação região concentrada foi proposta.
Outro fato que chama a atenção é que essa área concentrada está se expandindo em manchas, isto é, verifica-se essa mesma densidade de redes em outras áreas do território brasileiro, mas não de modo contíguo à região concentrada e, em grande medida, isso se deve à forte expansão do agronegócio no território brasileiro. Então, também há áreas no Mato Grosso, em Goiás, no sul do Maranhão, no Piauí e no oeste da Bahia onde a tecnificação do território se assemelha, guardadas as proporções, da região concentrada. Como essas manchas não estão desconectadas (ou isoladas), porque é de sua constituição a forte presença de tecnologias de ligação, pode-se afirmar que essas manchas conectadas uma as outras formam uma espécie, elas mesmas, de rede geográfica de lugares espaciais, bem diferentes do seu entorno.
Exponha, também, a ideia de que, em contraste com a regionalização do IBGE, há essa noção de região concentrada. Ao contrário da primeira, que já se formulou há quatro décadas, a segunda é dinâmica, pois dá conta do processo de expansão que vem transformando as realidades regionais aceleradamente, com o crescimento das redes materiais e imateriais (conforme foi dito acima), atraindo um grande volume de empresas nacionais e estrangeiras, fomentando um crescimento urbano significativo. Com base nisso, é possível debater sobre o aspecto dinâmico do espaço geográfico e da região.
Solicite aos alunos que tragam informações para a próxima aula sobre o que foi exposto nesta - dados sobre as redes de transporte e energia, portos, aeroportos, produções agrícolas, etc. e também sobre as redes de informação, exemplos concretos para colaborar nas reflexões que serão propostas.

2ª aula Transcreva na lousa os dados abaixo e, caso haja condições, use um retroprojetor para expor tais informações mais os gráficos que seguem no anexo desta aula:
Agências bancárias
Região concentrada: 13.745 (07 estados)
Brasil: 18.358 (27 estados)
Fonte: Febraban, abril/2008
Telefones fixos
Região concentrada: 31.278.565 (07 estados)
Brasil: 41.949.390 (27 estados)
Fonte: Anatel, fevereiro/2008
Telefones celulares
Região concentrada: 78.749.996 (07 estados)
Brasil: 124.122.479 (27 estados)
Fonte: Anatel, fevereiro/2008
Ferrovias
30.101 vagões incorporados no sistema ferroviário entre 1997 e 2006
(Salta de 20 aquisições em 1997 e sobe para uma média de 7.000 vagões a partir de 2004)
1.174 locomotivas incorporados no sistema ferroviário entre 1997 e 2006
(Salta de 10 aquisições em 1997 e sobe para uma média acima de 230 locomotivas a partir de 2004 com frota atual de 2.515 unidades)
O volume transportado salta de 250 milhões de toneladas em 1997 para 404 milhões de toneladas em 2006 A maior parte deste volume localiza-se na região concentrada
Fonte: Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários - ANTF
Rodovias
1,6 milhão de km de rodovias A maior parte deste volume localiza-se na região concentrada Fonte: Geipot, 1999
Certamente, esses dados vão propiciar uma oportunidade bastante interessante para um debate organizado. Esses dados exemplificam o peso do que está sendo chamado de região concentrada. Eles servem para estabelecer análises em conjunto com a sala. Também se podem complementar essas informações com outras que você detenha e, principalmente, pedir aos alunos que partilhem as informações coletadas desde a aula anterior, somados ao uso do livro didático. O conjunto de dados expostos deve reforçar a noção de região concentrada. A ideia principal é mostrar como essa região é muito modernizada e está em expansão para outras áreas do território brasileiro.
Esta aula permitirá aos alunos visualizar de modo bastante concreto a desigualdade existente no território brasileiro, especialmente no que tange à constituição técnica e moderna do território. Como fechamento, o lance a seguinte questão: embora a região concentrada detenha a maior parte das infraestruturas do país (as redes materiais e imateriais) e consequentemente a maior parte dos investimentos públicos e privados, como é possível que tenhamos também nesta região tanta pobreza quanto nas demais, senão mais?

3ª aula Até aqui os alunos foram levados a refletir sobre as diferenças entre a regionalização (as cinco regiões do IBGE) e a noção de região como algo dinâmico. Também puderam perceber que, além da regionalização em cinco macrorregiões, há outras, inclusive estabelecidas pelo IBGE. Mas o dado mais importante é que, para compreender a região hoje, é preciso que se relacione uma dada área territorial contígua com as redes que atravessam essa área e geram fluxos interconectando uma região a muitas outras, no Brasil e no mundo inteiro. Por fim, é preciso reforçar a idéia de que, no período atual, temos que distinguir as redes materiais e as redes imateriais e que estas últimas têm a capacidade de controlar as primeiras. Essa capacidade das redes imateriais é a principal expressão da globalização vista pela ótica da geografia.
Assim, é possível levar os alunos a compreenderem o fato de termos uma região globalizada no território brasileiro, que são as áreas onde há uma densa rede imaterial e que controlam as demais infraestruturas. Evidentemente, temos na região concentrada áreas onde a densidade das redes é muito maior, como por exemplo, as regiões metropolitanas e seus entornos, que têm, além dessas redes, uma gama de serviços muito específicos, característicos dos espaços da globalização. Afinal, é bom lembrar, esses serviços buscam as porções do território onde as redes são mais densas, especialmente as redes imateriais.
A partir dessa reflexão, proponha, se considerar conveniente segundo a dinâmica destas aulas, um aprofundamento sobre o conhecimento da região concentrada, sugerindo temas como:
- Telefones fixos e móveis no Brasil e nos estados que compõem a região concentrada
- Recente expansão do sistema ferroviário no Brasil
- Sistema rodoviário brasileiro
- Características da região concentrada: volume da população, área compreendida, PIB da região (somando o de cada estado que compõe a região), regiões metropolitanas etc.
- Sistema portuário e volumes de importação e exportação (comparando o total brasileiro com aqueles localizados na região concentrada).

Avaliação
Sugerimos como fechamento deste grupo de aulas que se peça aos alunos que, com base no que foi discutido, façam um pequeno texto (uma página, no máximo) sobre as diferenças entre região e regionalização, isto é, que comparem as regiões do IBGE com a região concentrada.


Nenhum comentário:

Postar um comentário