Para
debater as políticas territoriais no Brasil atual
Introdução
Nos primeiros meses de 2008, dois fatos paralelos ocuparam os noticiários nos principais órgãos de comunicação no Brasil: o envolvimento de ministros como Dilma Roussef, da Casa Civil, na divulgação de dossiê sobre gastos públicos no governo federal no segundo mandato do presidente Fernando H. Cardoso; a crise envolvendo Colômbia e Equador, por conta do ataque das forças armadas colombianas a uma unidade das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que promove luta armada contra o governo central colombiano desde 1964) instaladas em pleno território equatoriano, o que viola o princípio da soberania territorial - combustível para inúmeros conflitos territoriais no mundo contemporâneo.
Nos primeiros meses de 2008, dois fatos paralelos ocuparam os noticiários nos principais órgãos de comunicação no Brasil: o envolvimento de ministros como Dilma Roussef, da Casa Civil, na divulgação de dossiê sobre gastos públicos no governo federal no segundo mandato do presidente Fernando H. Cardoso; a crise envolvendo Colômbia e Equador, por conta do ataque das forças armadas colombianas a uma unidade das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que promove luta armada contra o governo central colombiano desde 1964) instaladas em pleno território equatoriano, o que viola o princípio da soberania territorial - combustível para inúmeros conflitos territoriais no mundo contemporâneo.
O que há em comum
entre esses dois eventos? Ambos têm ligações evidentes com os rumos e o
desenvolvimento de políticas territoriais do Estado brasileiro, tanto
internamente como no contexto regional sul-americano. A ministra, juntamente
com o presidente da República e outros ministros "núcleo duro" do
planejamento estratégico do governo federal, é considerada uma das
idealizadoras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado no início
de 2007. Trata-se de um extraordinário conjunto de investimentos públicos e
privados em infra-estruturas, envolvendo recursos da ordem de R$ 500 bilhões
até o ano de 2010. Entre os programas estão a recuperação ou construção de
rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, ampliação do potencial energético do
país, reformas urbanas e saneamento básico, que poderão trazer uma profunda e
radical transformação na configuração territorial do país.
O episódio
envolvendo os dois países vizinhos é mais um desafio ao projeto de integração
física, territorial e econômica da América do Sul, que vem sendo desenvolvido
no âmbito das entidades regionais sul-americanas e tem o Brasil como um dos
principais protagonistas. Uma parte significativa das obras do PAC está direcionada
para a integração sul-americana, colocando a bacia amazônica num dos principais
centros de operações do programa. Assim, para compreender os novos horizontes
das políticas territoriais levadas à frente pelo Estado brasileiro é
imprescindível levar em conta a estabilidade político-econômica e os debates
sobre o desenvolvimento do país, assim como a formulação de projetos com
objetivos e interesses comuns no âmbito do países do subcontinente.
Conforme o
geógrafo Wanderley Messias da Costa, as políticas territoriais inscrevem-se nos
campos da geografia política e da geopolítica e abrangem "toda e qualquer
atividade estatal que implique, simultaneamente, uma dada concepção do espaço
nacional, uma estratégia de intervenção ao nível da estrutura territorial e,
por fim, mecanismos concretos que sejam capazes de viabilizar essas
políticas" (COSTA, 1988, p. 13-14). Dessa forma, interessam aqui tanto as
políticas de desenvolvimento regional e integral territorial nacional (como o
estudo das redes técnicas de energia, transporte, comunicações e informação)
como as urbanas, ambientais, de instalação estratégica de atividades
produtivas, povoamento e estímulo à expansão de fronteiras internas e externas
ou o controle e vigilância das fronteiras. Abordagens contemporâneas da
geografia política incluem nesse rol também o exame do exercício das várias
formas de poder, como as relações entre a sociedade civil e as formas
institucionalizadas de poder em modernas sociedades democráticas.
Por meio de
estudos, pesquisas e seminários para apresentação e debates, esta sequência
didáticos propõe que os alunos se debrucem sobre as políticas territoriais do
Estado brasileiro. A ideia é que possam analisar as intenções e desdobramentos
contidos nos recentes programas de intervenção no território, que estão na
ordem do dia do país, e avaliem algumas de suas repercussões para o conjunto da
sociedade brasileira.
Objetivos
a) Reconhecer e analisar o papel das políticas territoriais na construção e organização do espaço geográfico nacional.
a) Reconhecer e analisar o papel das políticas territoriais na construção e organização do espaço geográfico nacional.
b) Compreender o
processo de ocupação do espaço brasileiro e do continente americano e sua
relação com o Brasil e o mundo, a partir do uso de diferentes linguagens.
c) Utilizar
recursos da leitura, escrita, observação e registro em procedimentos de
pesquisa.
Conteúdo
Estado - Políticas territoriais - Desenvolvimento econômico-social
Estado - Políticas territoriais - Desenvolvimento econômico-social
Ano
9º ano
9º ano
Tempo estimado Cinco aulas de 1 hora
Material necessário Textos e mapas em anexo
Desenvolvimento das atividades
Primeira
aula Apresente o tema geral das
próximas aulas e discuta com os estudantes metodologias, procedimentos e focos
temáticos para a sua execução. Dedique as duas primeiras aulas ao entendimento
dos enfoques possíveis para o tema. Se necessário, leve para a sala de aula
notícias, reportagens e artigos destacando fatos relacionados ao tema das
políticas territoriais no Brasil. Para melhor situar os estudantes nos
contextos que envolvem esse tema, esclareça que as políticas territoriais
atuais decorrem de uma sucessão de planos do governo federal como o Plano
Pluri-anual (PPA) de 1996-99, conhecido como Brasil em Ação, de 2000-2003
(Avança Brasil), de 2004-2007 (Brasil de Todos) e as previsões para o
quadriênio 2007-2010, integrados pelas vultosas obras do atual PAC. Todos esses
planos tinham entre seus objetivos a consolidação de políticas de integração
regional da América do Sul e também a integração da Amazônia ao espaço
produtivo brasileiro.
Por exemplo, o
Brasil em Ação, baseado na idéia de eixos nacionais de integração e
desenvolvimento, tinha entre seus projetos a recuperação de estradas como a BR
364 (Brasília-Acre) e BR- 163 (Cuiabá-Santarém); o asfaltamento da BR 174
(Manaus-Boa Vista), além da implementação das hidrovias do Araguaia-Tocantins e
do Madeira e do gasoduto de Urucu, próximo a Manaus. No Avança Brasil, parte
desses projetos, cumpridos apenas parcialmente, foram retomados,
acrescentando-se também projetos como os que estão voltados ao vale do rio São
Francisco e a hidrovia Paraguai-Paraná, além de construir um eixo voltado à
saída para o Mar do Caribe, com a rodovia Manaus-Boa Vista-Venezuela. Nos
últimos têm estado em pauta também os projetos de integração energética, em
especial com a Venezuela, além das dissensões sobre a importação de gás da Bolívia.
Ainda que
esbarrando em inúmeros obstáculos institucionais, como as questões de natureza
ambiental, como a que levou à suspensão temporária da hidrovia do rio Madeira,
ou social, como a forte oposição às obras de transposição das águas do rio São
Francisco, os projetos são bastante explícitos quanto aos propósitos: tornar a
economia sul-americana mais competitiva no cenário internacional, com o Brasil
à frente e promover o desenvolvimento econômico pela integração dos chamados
"espaços de reserva", como a Amazônia - sobretudo sua faixa
ocidental.
Vale lembrar
também a incorporação do Mercosul, com todos os seus impasses e (poucos)
avanços, a esse quadro. Articulam-se aqui interesses dos Estados envolvidos,
mas também de grandes corporações empresariais (dos setores de energia,
mineração e construção civil), do setor financeiro e de elites políticas
regionais. Participariam também agências de fomento, como o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Corporação Andina de Fomento (CAF),
o BNDES brasileiro; junto com governo e empresas, integram-se a iniciativas
como o Integração das Infra-estruturas Regionais Sul-Americanas (IIRSA), criado
no ano de 2000 e que vem funcionando não sem disputas internas e conflitos de
interesse (em especial, entre lideranças emergentes de diferentes países
sul-americanos).
Para as análises
desse complexo quadro, considere também que, embora com enfoques, recursos e
abrangência distintos, os planos atuais guardam algum parentesco com os famosos
planos nacionais de desenvolvimento colocados em marcha na década de 1970, caso
da expansão da malha rodoviária. Da mesma forma, os sucessivos planos nacionais
têm em comum o déficit de participação das populações e grupos sociais
regionais na definição dos principais rumos e investimentos (veja sugestões e
indicações nesse plano de aula). Mas já não se trata do projeto de um
"Brasil grande", de cunho marcadamente geopolítico, como antes, e sim
de organizar uma "cooperação trans-fronteiriça e de integração continental",
como salienta o geógrafo Hervé Théry.
Segunda
aula
Proponha que os estudantes se
dividam em grupos de até cinco componentes para estudar, pesquisar e preparar
produtos para serem apresentados de temas e assuntos que configurem o
"estado da arte" das políticas territoriais atuais. Eles terão um
grande leque de opções à disposição, a serem escolhidos segundo as preferências
e interesses de cada grupo: As obras do PAC, A rede rodoviária na Amazônia,
Integração energética da América do Sul, A questão do gás da Bolívia, Saída
brasileira para o Oceano Pacífico, Eixos continentais de integração e
desenvolvimento, Encruzilhadas do Mercosul, Conflitos políticos regionais na
América do Sul, O Sistema de Vigilância da Amazônia, Brasil e Argentina:
articulações meridionais, O projeto Arco Norte da Amazônia, entre outros. Eles
deverão avaliar em que medida esses projetos dinamizam as regiões, quem são os
atores sociais envolvidos e beneficiados e quais as questões sociais e
ambientais envolvidas. Para ajustar o foco dos temas e definir as etapas de
pesquisa, identificando o que precisam saber mais, peça aos alunos para
examinar os textos e mapas em anexo. É importante também que tenham acesso às
referências bibliográficas e os portais na internet sugeridos nesse plano de
aula. Solicite que cada grupo apresente um plano de trabalho, definindo tema,
abordagem, etapas da pesquisa, prazos e cronograma e produtos finais.
Terceira a
quinta aulas Reserve
um tempo nessas aulas para que os estudantes promovam as pesquisas necessárias
para o desenvolvimento dos temas. Combine também com a turma a organização de
seminários de apresentação dos resultados, estabelecendo a ordem de
apresentação e tempo reservado ao debate do trabalho de cada grupo. Acolha as
ideias e sugestões para apresentação dos resultados e providencie, juntamente
com os estudantes e outros educadores e funcionários da escola, os recursos,
equipamentos e materiais necessários. Vale a pena também definir coletivamente
formas de exposição pública dos trabalhos, seja em painéis ou murais da
instituição ou em um evento especialmente preparado para isso.
Avaliação
Para efeitos de avaliação considere os objetivos estabelecidos para a sequência didática e os processos e produtos gerados ao longo do trabalho. Considere as progressões individuais e coletivas na leitura e interpretação de dados em textos e mapas e valorize as capacidades de argumentação nos debates sobre as políticas territoriais no Brasil atual. Observe com especial atenção a participação individual e coletiva. Se necessário, prepare avaliações individuais após o balanço final do trabalho desenvolvido.
Para efeitos de avaliação considere os objetivos estabelecidos para a sequência didática e os processos e produtos gerados ao longo do trabalho. Considere as progressões individuais e coletivas na leitura e interpretação de dados em textos e mapas e valorize as capacidades de argumentação nos debates sobre as políticas territoriais no Brasil atual. Observe com especial atenção a participação individual e coletiva. Se necessário, prepare avaliações individuais após o balanço final do trabalho desenvolvido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário